Aspectos da fonética do Mebêngôkre falado pelos Xikrin
Mebengôkre; Xikrin; Fonética Articulatória; Fonética Acústica.
A língua Mebengokrê, pertencente ao ramo setentrional da família linguística Jê, é falada por um conjunto de grupos indígenas que, apesar da língua comum, se reconhecem como distintos e autônomos: os Kayapó, os Gorotire, os Mẽtyktire, os Mẽkrãknõti e os Xikrin, sendo estes últimos os falantes da variedade do Mebêngôkre que é o foco do presente estudo. Esta dissertação tem como objetivo descrever alguns aspectos da organização fonética do Mebêngôkre falado pelos Xikrin da Terra Indígena Cateté. O foco do trabalho está, particularmente, em uma descrição instrumental e quantitativa, isto é, com o auxílio das técnicas da fonética acústica, de aspectos da implementação fonética do Mebêngôkre, preenchendo assim uma lacuna nos estudos sobre a língua. Tomando como base a teoria acústica da produção da fala, que guia a análise dos produtos da análise acústica, como os espectrogramas e as representações de onda, apresentaremos dados a respeito da realização de segmentos consonantais e vocálicos, tal como: VOT de oclusivas orais surdas, duração de realização, e implementação vocálica em um espaço definido pelos formantes F1 e F2. Como resultados específicos, mostraremos que as oclusivas vozeadas são produzidas com vozeamento por todo o intervalo de oclusão, que a pré-nasalização é opcionalmente recrutada como mecanismos de manutenção do vozeamento em posição inicial, que o tepe é produzido em posição inicial com uma vogal de suporte que o precede, e que as oclusivas nasais possuem alofones pós-oralizados, em especial em fala casual. Sobre a fonologia processual, apresentamos evidências sobre o processo de vozeamento regressivo de oclusivas orais, tendo como gatilho uma consoante nasal heteromorfêmica, e examinamos a ocorrência de outros processos de resolução de encontros consonantais, incluindo um mecanismo de epêntese vocálica que não havia ainda sido descrito na literatura sobre a língua Mebêngôkre.