HISTÓRIAS DO MEU POVO, A ESCREVIVÊNCIA DE ESMERALDINA DOS SANTOS
escrevivência; comunidade quilombola; literatura de autoria negra; quilombagem
literária; Esmeraldina dos Santos.
Esta dissertação é o resultado da análise da obra literária intitulada Histórias do meu povo
(2002), da escritora quilombola amapaense Esmeraldina dos Santos, objetivando tratar da
escrevivência da autora, marcada pela memória e valorização da identidade cultural
quilombola. O objeto deste estudo é uma narrativa poética e musical que descreve a história do
quilombo do Curiaú, localizado a 14km do centro da capital do Amapá e fundado por um grupo
de pessoas negras escravizadas durante a construção da Fortaleza de São José de Macapá, que
é considerada a maior fortificação do Brasil construída para proteger a Amazônia de eventuais
ataques ou invasões no século XVIII. O livro de Esmeraldina apresenta, ainda, a cultura do
marabaixo, uma manifestação folclórica afro-amapaense. Este estudo tem, portanto, a
finalidade de contribuir para o fortalecimento da presença de escritoras quilombolas e suas
escrevivências memorialistas e identitárias na crítica literária brasileira. Desse modo, tem-se
uma discussão em torno desse tema fundamentada em autores que tratam dos conceitos de
escrevivência (Evaristo, 2020), memória coletiva (Halbwachs, 1990; Nora, 1993) e oralitura
(Martins, 2003). A análise literária leva em consideração também o discurso de resistência da
autora, a “quilombagem literária”, termo utilizado para tratar do ato das escritoras negras de
escrever e publicar suas obras. Este termo foi inspirado no conceito de “quilombagem” tratada
na obra de Clóvis Moura (2001), frente à tentativa de silenciamento e apagamento histórico dos
negros no Brasil durante séculos, em especial da mulher negra quilombola na Amazônia que,
apesar do cenário de difícil publicação no Norte, sobretudo no estado do Amapá no início dos
anos 2000, tornou-se uma importante voz na cultura amapaense.