Narrativas de indígenas sobre o contexto profissional urbano: uma análise da (re)significação da identidade étnica a partir da sua atuação docente em Oiapoque, Amapá, Brasil
Escola urbana. Identidade étnica. Narrativa indígena. Professor indígena. Trabalho docente.
Ao saber que a premissa da identidade étnica de uma pessoa não se torna pré-requisito para a sua investidura no serviço público brasileiro, esta dissertação, ainda em andamento, trata da presença formal de indígenas que ocupam profissionalmente a docência em ambientes institucionais urbanos da cidade de Oiapoque (Amapá, Brasil). A partir desse contexto, entende-se que esses espaços formais não indígenas também contribuem na definição, na manutenção e/ou (re)configuração da sua identidade étnica, (re)marcando ou não a sua diferença. Assim sendo, o objetivo é analisar as percepções de indígenas sobre o processo de (re)construção da sua identidade étnica a partir da sua atuação docente e das relações interétnicas vivenciadas nas escolas urbanas de Oiapoque. Trata-se, portanto, de uma pesquisa de natureza qualitativa a ser realizada com professores que se identificam como indígenas e que exercem atividades docentes em escolas urbanas da cidade de Oiapoque (estadual ou municipal). Para isso, metodologicamente, escolheu-se a pesquisa narrativa com base nas contribuições de Clandinin e Connely (2011), que a consideram como a melhor forma de compreender e de representar as experiências de vida, particularmente as educacionais e as interétnicas vividas e contadas pelos indígenas sobre o seu contexto profissional urbano. A coleta de dados se dará através de entrevistas narrativas por ser, de acordo com Jovchelovich e Bauer (2008), uma técnica não estruturada, de profundidade e com características específicas, capaz de capturar os aspectos relevantes dos acontecimentos. Os dados serão tratados sob a lente da análise do discurso de linha francesa, que, segundo Orlandi (1994; 1999), busca compreender a relação discursiva entre sujeito, linguagem e sociedade em um viés ideológico. Com este estudo, pretende-se contribuir com um diálogo intercultural qualificado entre profissionais indígenas e não indígenas, de diferentes categorias docentes ou não, para uma ampla compreensão das particularidades sócio-históricas dos indígenas brasileiros, refletindo e problematizando, de certa forma, as relações de alteridade no contexto institucional. E, por fim, incentivar outros sujeitos a entender a presença formal de indígenas desenvolvendo atividades profissionais para além daquelas previstas em suas próprias comunidades indígenas e, a partir disso, potencializar uma educação para as relações etnicorraciais de forma emancipatória, dialógica e intercultural no século XXI.