A EDUCAÇÃO NA AMAZÔNIA DO “OURO NEGRO”: o programa educacional da Icomi no Distrito de Santana/AP (1960-1984)
Educação. Fordismo. Educação Icomiana. Amazônia. Amapá.
Este estudo surge do interesse em compreender as concepções e ações educacionais da empresa Indústria e Comércio de Minérios S. A. (Icomi), desenvolvidas durante o período de 1960 a 1984, no então Território Federal do Amapá. Abordando a interface entre educação e fordismo, buscamos analisar a instituição do programa educativo icomiano, pautado no modelo fordista de produção e regulação social, conexo à política de educação tecnicista reforçada e consolidada no país neste contexto. Assim, com esta dissertação objetivamos analisar a relação entre o programa educacional da Icomi e o fordismo na Amazônia amapaense, com enfoque na experiência da Escola de Vila Amazonas (Esvam) e nos projetos extraescolares. A relevância desta investigação advém da necessidade de se construir e compreender a história da educação posta em prática durante esse período do TFA, que perpassa, além da instituição de outras políticas em distintas temporalidades, também pelo entendimento da função que a educação icomiana teve ao cumprir o papel de transmissora de ideologias, particularmente formando para o trabalho várias gerações de amapaenses. Deste modo, o questionamento que norteou o trabalho foi o seguinte: de que modos a educação icomiana concorreu para a concretização do modelo de desenvolvimento fordista no TFA? A partir desta perspectiva, definimos como principal recorte espacial a Vila Amazonas, enfatizando as ações educativas que se desenvolviam dentro e fora da escola. Enfocamos o período de 1960 a 1984 (recorte cronológico da pesquisa). O marco inicial, o ano de 1960, denota quando a Escola de Vila Amazonas passou a funcionar no Distrito de Santana, com o início da efetivação de ações educativas escolares, sopesando que as demais ações de regulação social da empresa já eram sólidas na ocasião. A baliza temporal final, ano de 1984, demarca o momento em que a Esvam deixa de ser administrada pela Icomi e passa aos comandos da Fundação Bradesco. Por meio da análise de artigos de periódicos, de registros escolares e da bibliografia especializada foi possível elucidar o propósito da formação do trabalhador virtuoso, que deveria ser instruído, disciplinado e sadio para atender às demandas da produção maquinizada. Foi igualmente possível compreender os meandros de um programa pedagógico que viria tentar assentar as bases fordistas, formando o educando para a vida em família, para o trabalho e para bem servir a pátria. Foi constatado, ainda, o pouco interesse quanto à formação humana e o incentivo à adequação às normas desde o início da vida escolar. Os registros escolares evidenciaram uma prática de seleção e classificação escolar que era opressora e estigmatizadora para os que apresentassem qualquer tipo de dificuldade no aprendizado. Dessa forma, concluímos que a educação icomiana foi forjada em diretrizes de uma educação elitista, excludente e que atendeu principalmente aos interesses do capital.